sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O namoro de 5 anos!

A gente bem que tenta se redimir de nossos próprios pensamentos, afastando idéias que parecem sempre tão incômodas e até criminosas. O politicamente correto está aí, caçando e enjaulando nossas idéias. Ineficazmente a gente tenta não pensar, sublimar as sinapses até que nossa sujeira mental se eterifique, tornando-nos Budas Modernos. Pois é... Eu tentei não pensar, mas estava sentado observando Fabrício de pernas cruzadas na sala. Ele estava de braços cruzados com a blusa de seu time de coração, o Flamengo, com o cenho  fechado, assistindo uma partida do Brasileirão. Para ele, uma coisa tão corriqueira quanto beber água. Para mim, gay e desatento do mundo esportivo, um hábito quase sem sentido.

Me joguei no pufe ao lado do sofá e fiquei ali, olhando pras pernas dele. Não lembrava que ele tivesse tantos pelos. E menos ainda me recordava que aqueles fios pretos fossem simbioticamente tão bonitos com sua pele morena de sol. Ele era um à toa e, embora conversássemos tanto e pudéssemos ser amigos, eu sempre guardei muitas reservas a respeito de seu estilo de vida. Ele não chegaria a lugar algum - eu conclui. E, do alto de minha arrogância, eu achava que, ao contrário dele, eu tinha um encontro marcado com o sucesso pelo simples fato de me lançar sobre meus livros como uma traça esfomeada. As traças, no entanto, eu deveria me lembrar, continuam traças. Repugnantes e secas.

Fabrício era bonito. E eu, naquele instante, o desejei. Do jeito mais idiota e adolescente possível.Sabe aquele tesão esquisito e repentino? Daquele que te entorpece os sentidos e que, se levado ao ato sexual, te deixa quase sem ar? Era isso! Sacudi a cabeça quase que querendo me livrar daquelas malignas imagens que se criaram dentro da minha cabeça. Ora, eu tinha um namorado de 5 anos! Alguém sério e sóbrio do meu lado. Eu o amava, até porque sentia ciúmes dele. Isto devia ser sinal de amor. Quem fica tanto tempo com alguém e ainda sente ciúmes e não ama? Mas... porque mesmo eu não sentia esta atração cáustica pelo Carlos? Me levantei e fui pro quarto, sofrendo de auto martírio.

Como eu podia me sentir atraído por um estranho, sem importância ou significado profundo como o Fabrício?

 Já o Carlos não. Tínhamos uma história, um afeto regado a prantos e alegrias. Foram aniversários, natais, dias dos namorados, chamego e trocas de promessas. Tudo isso tem um valor muito grande porque tende a se perpetuar.  Somos tolos visuais, isto sem dúvida. E somos sexualizados. Quanto mais penso no amor, mais me dou conta de que o ser humano apenas tangencia o seu conceito. Não temos muita certeza do que seja isso. Se sentíssemos ele nas entranhas, talvez o sentido físico do sexo se perdesse. Estaríamos plenos e satisfeitos. Mas somos eternos desajustados...

Liguei o computador e mandei um e-mail pro Carlos.


"Eu te amo" - disse. Resumindo em uma linha um oceano de incompreensões. Quem não entende, acaba fadado a reproduzir.

por Bernardo

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